Nostalgia sinestésica.

Não entendia o que exatamente estava acontecendo, apenas sabia que fechar os olhos e ouvir as risadas me fazia sentir nostálgica...era um sentimento tão aprazível. Era como tocar meu âmago e reviver as velhas lembranças, mas de uma forma inexplicavelmente sinestésica.

Os gostos, os cheiros e os olhares eram profundos, e meu vazio se recheava, levemente, eu ia encontrando sentido para estar aqui e viver em meio as diferentes formaturas que o júbilo se manifestava

Procurava em meu léxico alguma explicação material para o que eu sentia, mas percebia que ele não era útil e muito menos necessário nesse meio. Precisava fazer valer apenas meus sentidos inerentes.

Tateava o ar como se buscasse e quisesse abrir um baú, queria inalar o cheiro do instante, queria sentir as lembranças e o que vejo agora atravessarem meus desejos.

E eu sentia-me como se fosse transportada para outro plano, sentia-me só. Porém, a solidão não me entristecia, ao contrário, sentia-me livre e desesperadamente perdida em pensamentos inertes que ao serem tocados por mim, faziam com que eu sorrisse involuntariamente.

O tempo ia passando, e eu ali, intacta como se fosse uma estrela morta no céu; algo translúcido e não representativo do mundo real... queria ser, queria fazer parte da minha existência que se materializava no mundo dos outros, no mundo daqueles que projetavam as cenas que tocavam sutilmente meu corpo, por dentro...

Enquanto eles continuavam ali, sorrindo, sem nenhum motivo, eu ia regredindo. Sentia a regressão da minha mente; voltara a ser criança.

Meus olhares mudaram, passei a ver e apenas aceitar, sem querer que alguma explicação caísse em meus braços e me fizesse compreender o que eu era.

E lá eu continuava a olhar, do vazio, todo o movimento do mundo dos outros. Continuava intacta e minhas lembranças preenchiam toda a sinestesia do momento.

O ocreado cheirava feito sorrisos.

Ana Luiza Bado
Enviado por Ana Luiza Bado em 12/05/2010
Código do texto: T2253419
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