Chão de cinzas


Havia um céu cinzento por cima das montanhas
azuladas onde a gente colecionava as almas
dos conhecidos que morriam. Eu era a maior dos
três e tinha que ser corajosa, nunca demonstrar
medo quando uma alma nova vinha morar naquele
recanto.
Brincávamos com isto há tanto tempo, que já
acreditávamos realmente que aquele lugar era cheio
de almas. Nosso passeio diário era muito divertido:
No inverno, a neblina cobria as serras e a paisagem
era muito propícia para nossas aventuras de incutir
medo em nós mesmos. O outono nos inspirava muitas
histórias nas tardes calmas cheias de mistérios...
Na primavera, a gente deixava as almas desancarem,
porque as flores e os pássaros eram nossos temas
preferidos.
Mas houve um dia em que o silêncio foi maior que
nossas emoções de criança. Entramos na mata como
se entrássemos num planeta nunca visto antes.
Um planeta negro, deserto de seres vivos, de cores
e sons que lembrassem vidas. Nem mesmo as
almas suportariam ficar ali depois do incêndio
que destruíra todo o verde, todos os pequenos animais
e as flores que chegavam com a primavera.
E fomos caminhando calados entre os esqueletos
das árvores, atolando os pés na cinza que cobria o chão.

Camélia La Branca
26/10/009

Camélia La Branca
Enviado por Camélia La Branca em 03/06/2010
Código do texto: T2298192
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.