O Poeta e o Menino
De longe avistei o menino
Ele me olhava fascinado
Eu um pobre poeta na rua sentado
Escrevendo de amor para burgueses chateados
Ele me olhava e eu comecei a observá-lo
Tinha olhos martirizados, vermelhos
De dor ou de fome não tenho certeza
Trazia nas mãos uma sacola
Estava sentado na calcada
A boca rachada
E eu com casacos pois o frio me cortava
Ele apenas com uma camiseta e um calção rasgados
Os pés nus o cabelo bagunçado
Mãos sujas, e ele continuava a me observar, calado
Seus olhos fundos pareciam não ter mais lagrimas
Seu corpo miúdo magro
Quase esquelético de fato
E ele continuava me observando, calado
As pessoas passavam por ele
Nem olhavam
Nem ele, as olhava
Pois seus pequenos olhos estavam na minha direção
E ele não tirava a atenção, voltada para mim naquele momento
Eu me levantei, não poderia me manter ali parado, sentado
Me aproximei, seus olhos me seguiram
Ele não tiropu a atenção de mim nenhum momento
Quando estava próximo o suficiente, pergunte:
- Sabes ler?
Ele me respondeu com um aceno, positivo.
- Sabes escrever?
Outro aceno positivo.
- Escrevas. Disse lhe passando o papel que estava na mão.
E ele escreveu, o que me perguntas, lhe repondo:
“Poetas são engraçados.”