CENA DE UM CRIME

Cheiro de naftalina
Roupas amassadas
Destroços humanos
Perfumes, aromas
Desodorante rollon, enfeite de neon
Spray, creme e lâmina de barbear
Tudo fora do lugar... drops de menta
Loção após barba, xampu, cd de blues
Pentes, escovas, pinças
Seria metrossexual o animal?
Flashes, vozes, nojo
Lápis, bloco, suor
Comentários esdrúxulos e insultos
Fardas, armas, quepes, alfinetes
Coletes, coldre, cheiro de podre
Dólares, real, moedas de centavos
Camisinha, lubrificante, esperma
Sapato, tênis, meia, terra
Poça de sangue ao lado do edredom
Bombom, mancha de batom,
Sutiã, espartilho, revistas, afrodisíacos
Gerânio, tulipa, hermafrodita?
Cueca, marca Sueca, eca
Pedaços de pizza, restos comida, bebidas
Torradas, adoçante, xicara de café
Pão de queijo, biscoito integral, recorte de jornal
Ele parecia até normal.
Se fazia bem, se fazia mal...
Fazia de tudo: cunillingus, sexo anal,
Se chupava órgão genital...
O cara era um boçal.
Pobre rapaz...
Agora não sofre mais
Pois fora estrangulado
Se era hetero, bi ou viado
É agora não passa de um pobre ser
E era universitário, na real um otário, pode crer
Daqui a pouco a sete palmos
Antes será velado, recortado, revirado
Na mesa de mármore, jogado a mercê
Pobre diabo, pobre coitado, pobre corpo ensanguentado
Nenhum aparentado apareceu
Não era um animal, de fato, mas pareceu...
E assim o idílio se completa
Velório, enterro, cemitério
Rostos sérios em ebulição
Cena mais patética essa
Inquérito policial, manchete de domingo
Investigação, processo judicial, página policial
Arquivado por faltas de provas ou insuficiência
Santa inocência ou inútil ciência, nada de clemência
Talvez família em desolação, quem sabe até perdão
E assim mais uma vida ceifada nos verdes anos
E nem feliz ele foi já que morreu assim.
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 06/08/2010
Reeditado em 06/08/2010
Código do texto: T2422390
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