"O Poeta"
O Poeta
movimenta seus desenhos e cria
sobre o gélido sorriso da foto
o esbôço noturno da imagem em pleno dia.
O Poeta
se rí estrábicamente diante do próprio pranto
e suas palavras rolam em letras perdidas
harmônicamente em seu canto.
O Poeta
versifica em momentos de encheção
de saudade, (des)ilusão, (des)encontro,
tristeza, amor e solidão de quem fica.
O Poeta
é esquecido como baralho na mão
e 'in Brazil' é vencido pelo ás da televisão
que se mete em sanduíches de coração.
O Poeta
liga extremos em sua concepção
numa rotação única de pólos opostos
que une suas mãos às máquinas frias;
escreve sentimento, purifica a essência,
distrái a poluição.
O Poeta
não tem noite nem dia, é rebeldia;
sua abstração, ele verte, reverte e inverte
sem agonia, o sentido real sob total imaginação.
O Poeta
é um Bruxo! e a destreza de sua magia
a certeza do seu estilo: fundamental...
um Luxo.
O Poeta
nunca se cala. Ele verte a decepção
em boniteza, vê no concreto beleza
nas maldades a sutileza,
nos corretos a safadeza, e em todos confia
para nova decepção(inspiração). Tímido.
O Poeta
é pálido sorriso em esbôço que definha
na manchete já arquivada
em ausente pensação. Solitário.
O Poeta
é padre que não reza terço não
mas prega seus pontos de vista em várias
línguas de democrática tradução.
Que mesmo além da Vida, não tem ponto final
à nível de interpretação.
O Poeta
é bandido, malicioso, futurista, indisciplinado,
repentista, e em cada pupila uma interrogação.
O Poeta
é calibrado, não tem mêdo de dentista
nem de mau-olhado, é trovador que ameniza
o dia-à-dia da civilização.
O Poeta
antes de tudo é um cara-de-pau,
que entra sem pedir licença e sai
sem solicitar perdão, é mau.
O Poeta
é amoroso, cínico, tôdo paixão.
Ele é um destemido que prefere não ir de avião.
Ele é sensitivo que capta qualquer insatisfação.
O Poeta
é isso: vibração, vida, viração...
uma mancha escorregadia de um óleo que difere
para cada coração.
Homenagem ao Grande Poeta do qual sou fã e admiradora: Mauro Gouvêa