Selvagem

Me virei pelo avesso

e mostrei meu couro ao contrário.

Curti minha pele ao sol

e lagarteei sonolento.

Sosseguei os urros que sou

e dei-me ao vento.

Embolei-me em mim

quando a noite veio

e uivei com os lobos

e limpei-me no sereno.

O animal doméstico se foi.

Queimei ternos e gravatas.

Amanhã, saio à farejar

aquela nova fêmea;

que esqueci essa coisa

de alma gêmea.

Virei outra vez selvagem.

Sou dentes, sou garras;

lobo lagarto das farras.