Réstias e restos

A lua que nos ilumina

é a lua dos pobres.

Em fracas réstias,

mal clareia becos,

onde vagueiam

bichas e bêbados,

lésbicas e inválidos.

Que dá esmolas

de pouca luz,

à quem procura algo

que ainda não perdeu,

à quem lamenta amores

de longínguo passado

e à quem sente ainda

ilusórios odores.

A lua que nos ilumina

nos dá só os restos;

o que sobra dos outros

e que aqui se despeja

em sentidos prantos.

Não deveria ser assim.

Esta lua, deveria

esparramar-se nas ruas

de quem só tem à ela.

Deveria consolar dores

e sofrimentos. Dar-se

inteira e não aos pedaços.

Dar-se toda, à quem não tem

sequer um abraço.