AMARELANDO


As pessoas crescem de fora para dentro: não deveria ser o contrário? As lúcidas manhãs não nascem das madrugadas? O objeto do prazer está dentro ou fora do corpo? A tua tão almejada felicidade está fora ou dentro do teu corpo? A facilidade de subverter a ordem das coisas é inefável enigma de que as coisas não estão bem nestas cabeças de vento, que andam Vampirizando mundo afora... E o silêncio das estrelas, que observa as trapalhadas cotidianas dos incautos, entorpece a minha solidão de artista revolucionário pensante; ainda que os meus olhos azuis-esverdeados tentem enxergar o colorido das coisas...
As pessoas crescem de fora para dentro. É porque são vazias, e vão preenchendo o vazio com os entulhos das ciladas materiais... Como eu posso alertá-las que se deve crescer de dentro para fora? Pelo aparelho digestivo? Ou pela definição de que a felicidade está dentro do âmago de cada um? Esta ansiedade de querer salvar a humanidade é uma indecente alucinação que persegue os loucos... Queria ser um feiticeiro para enfeitiçar a humanidade: que ela fosse o registro da idealidade amorosa! Eu saberia azular os meus versos nas escadarias amareladas da imprecisão... Saberia compreender a caduquice das pessoas que deixaram os seus sonhos embarcarem nos navios das ilusões materiais...
Na hora H, as pessoas vão amarelando feito um periquito dentro de uma gaiola: e se abrir a gaiola não há jeito de fazê-las saírem de seus esconderijos lunáticos... Querem viver num mundo melhor; mas não sabem voar, pois a religiosidade lucífera cortou as suas asas... E nem percebem que nasceram com asas: viver sem asas é uma maneira comodista de se assentar sobre a terra – é muito mais confiável e seguro! Que nunca me cortem as asas ó malditos capitalistas materialistas! Posso não ter dinheiro para me esbaldar nos prazeres materiais (mas para que tanto se tudo é efêmero); mas tenho a cientificidade da presença divina em minha vida cosmológica... Tenho a imaginação que cria o inusitado, que cria a arte... E os senhores capitalistas selvagens estão criando desumanidades que se espalham mundo afora, porquanto a maioria das pessoas está amarelando as suas condições existenciais...
Um grito no escuro do útero da madrugada: as flores estão despetalando-se... Os cavalos baios estão morrendo... E as conversas frívolas continuam compondo o cenário da insociabilidade humana: o cerne das questões ideológicas... E o pensamento é prisioneiro da ociosidade política... E os grandes pensadores são taxados de loucos... E o mundo vai girando, enquanto o tempo travesso nos assustando diante da decomposição letal dos nossos corpos... Mas não somos espíritos? O corpo material não é apenas uma vestimenta que o espírito usa e se desfaz quando velha? Qual o problema, então? Somos o de dentro e não o de fora, percebe? O corpo não pode voar; mas o espírito pode... E pode tanto mais, que a tua imaginação leiga não pode nem tentar imaginar...
Estava tudo tão bem no filme, uma pena que amarelaram na hora de rodar a película... E os teus cílios postiços emborcaram o teu olhar felino... Quero me surpreender com uma gota d’água, antes do crepúsculo...

FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 16/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2502059