SUSPIROS NOTURNOS


E as madrugadas indolentes e esquálidas debruçando os seus braços nos vértices das paixões desoladas, em movimentos delicados e cuidadosos, propiciando um buraco negro de solidões escandinavas... Atropelamentos de desejos emancipados e caquéticos, produzindo semblantes estrábicos e agonizantes sobre as paredes sintéticas das ilusões materializadas no engodo dos crepúsculos... E os luares prateados sobre os tetos das paixões desoladas são embarcações desamorosas, fluidificando as tremulações camufladas do ópio das horas inválidas... E as versificações dos amores estropiados, poetizando a insensatez dos destinos desviados pelas tragédias, cumprem o ensejo de confabular com as estrelas azulecentes dos céus dourados da galáxia Trepidante da China... Toneladas de emoções conflitantes conjugam as discordâncias das heroínas simultâneas, absorvendo a configuração dos sonhos amarelecidos...
E os suspiros noturnos fazem uma revisão de todo o projeto existencial dos amantes desenganados, que ainda insistem em alimentar a idéia dos reencontros amorosos – ainda que a carne fraca já esteja nadando na indolência da flacidez reconhecida... A indisciplina dos gestos angustiantes, que não aceita a saudade passional, é a fomentação do desejo insaciável – que dilacera os corações! E as complexidades das emoções incandescentes são torpedos ensolarados, que alumbrando visualidades, transparecem os sentimentos mais cálidos dos corações amorosos dos amantes... Os vagos pensamentos agônicos, debulhando os cerebelos abaulados, impressionam os sentidos desavisados das interpelações amorosas entorpecentes... Constelações de luzes amarelas caleidoscópicas atravessam os corações vermelhos destas ilusões amorosas infindáveis, que só obtêm a cura depois do desenlace perispiritual dos corpos amantes...
Os suspiros noturnos são oceanos profundos de sensações mal resolvidas, ativando um quadro depressivo nos amantes, encubando uma tristeza indelével de amores favelados e maltrapilhos... E a vontade de amar novamente é como uma mendicância amorosa, capaz de quaisquer suplícios vergonhosos, só para recuperar o amor perdido... E a silenciosa madrugada, que conhece os segredos dos amantes distanciados, inspira os suspiros amorosos que se multiplicam até os horários vespertinos... O silêncio que se faz presente é como uma tempestade de sentimentos caóticos, embrulhando os estômagos dos amantes irrecuperáveis; pois as tentativas de novas emoções amorosas são sempre frustrantes e insípidas... E esta secura de sentimentos tortos engloba as demolições cotidianas, distanciadas do carinho e do apreço de um novo amor: o grande amor é um ingente precipício de um abismo insuportavelmente eterno da matéria – só a morte pode libertar os espíritos do cativeiro amoroso...




FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 16/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2502126