A LOUCA DO PARNASO

Quem era aquela
Que passava
Descalça ao meio dia
De forma lúdica
Em disritmia
Exibindo o que tinha
E o que não podia.
Ela era indecifrável
E a nada se parecia
Todos diziam
E se perdiam
Ao analisá-la
Com seu olhar vago
A querer dizer algo
Rosto largo
Semblante desencantado
Equidistante e errante
Sorriso lânguido
A meia boca
Desdentado
Cabelo desgrenhado
Seios a mostra
Cintura protuberante
Quadril envergado
Pernas trôpegas
Cambaleantes
Andar desorientado
Lembrava um elefante.
Então perdida no contexto
Mergulhado no vácuo do desleixo
E assediada pela loucura pagã
De dormir toda noite
Sem certeza do amanhã
Ela aos berros
Falava impropérios
Declamava versos
Praguejava aos infernos
Exaltava os céus
Na porta do cemitério
Despertando curiosidade
Junto a asco assintomático
Vivendo em cadafalso abstrato
Tendo a existência como carrasco
E a vida como pasto
E como alimento o descaso
E do mundo um lago de podridão
Para nadar a exaustão...
Que tanto pecados continha
A alma de Sara Sarrafo
A louca do Parnaso.
Pobre Sara cheia de chagas
Já calejadas dos sarrafos
Do destino em desatino
Que nunca saram
Nem exaguam os males
E deixam na língua gosto amargo
De quem nasceu fadada ao descompasso
Do próprio passo.
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 22/09/2010
Reeditado em 22/09/2010
Código do texto: T2512801
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