Rádio
Era como se ela dormisse sempre.
Não fizesse nada que ela realmente quisesse. Era empurrada praquela mesma coisa se todos os dias; os mesmos pensamentos, os mesmos lugares, que sempre ia porque as pernas já sabiam o caminho decor. Era até bom: andava tão cansada que, pegar o caminho errado por falta de atenção seria energia importante desperdiçada.
O mais engraçado é que sentia que podia mudar as coisas. Tinha potencial, falavam pra ela. Só não sabia onde ele estava.
Mas era de fases, como a lua. Em certas ocasiões, brilhava como o Sol. Chorava como a chuva, e dava risadas como se estivesse eternamente dançando sozinha no quarto.
Se deixava levar pelas músicas que ouvia, e sabia que elas lhe davam força pra mudar qualquer coisa que sentisse, então mantinha o rádio ligado; SEMPRE.
A vida tinha trilha sonora, era fato. Então ela esperava sempre a outra música. Trocava de estação pra ver se achava uma mais animadinha, que a impulsionasse a mudar também. Que conseguisse fazê-la esquecer de onde estava e a fizesse começar a flutuar em pleno meio dia. Que grudasse na cabeça feito chiclete no sapato, e a deixasse até incomodada por não conseguir tirá-la da cabeça.
E assim ia trocando as estações. Deixando algumas gravadas na memória do rádio, outras não sintonizavam nem por reza brava. Mas ela tentava sempre.