CREPÚSCULO

Eu confesso que estou vivendo e sentindo os efeitos dessa singularidade da vida e do tempo. Entretanto, também devo confessar que, o crepúsculo que estou vivenciando é, na verdade, uma aurora às avessas. Não sei como encarar isso, o fato é que, dentro dessa estação especial do ano, a primavera, nela, eu muito tenho apreciado as flores. Esse comportamento anímico aconteceu, é claro, depois que passei a amar novamente uma linda mulher. A natureza obedecendo aos impulsos do cosmo e a influência divina, está bordando sabiamente todos os dias para mim com os seus tapetes florais e indizíveis, que retratam muito bem o meu atual estado de espírito.

Esse amor que está nascendo de forma mansa e natural, também trás em seu bojo de felicidades algumas preocupações. Quando o amor bate a nossa porta, já com o coração trêmulo e descompassado, vive-se uma euforia preocupante, pois já não mais apresentamos aquela estrutura emocional dos trinta anos. Mesmo assim, eu me sinto novamente jovem e um sonhador incorrigível. Eu sei que, nessas alturas da minha idade, a verdade é dura e cruel, mas em compensação, eu estou sublimando uma doce ilusão cheia de magia, encantamento e amor.

Ela é jovem, muito jovem, mas o seu amor apaga a diferença de nossas idades, por isso, ela me faz sentir tão jovem que chego a me assustar com essa adolescência tardia. Confesso que voltou aos meus olhos, aquele brilho que denuncia uma nova paixão, e isso faz com que o meu coração viva tropeços novos. A minha alma voltou a vibrar, é uma sinfonia de benquerer que me leva a um êxtase muito profundo.