REENCONTRO

Ontem arrumei a casa. Espanei a poeira de todas as certezas. Despejei das gavetas de guardar tranqueiras: manias, medos, esperanças, bons e maus momentos. Daquelas vozes antigas, fiz um nostálgico poema: uma canção- de -ninar -sol -poente- que entreguei ao vento. Despedi-me.

Hoje, acordei bem cedo. Dedilhei no vento uma canção macia...pensei em beber do dia toda a beleza. Espreguicei-me, lavei o rosto... olhei-me no espelho: era a mesma! Em carne, osso e reticências. Do meu espanto, fui salva pelas reticências. Então,

há algo ainda a ser dito...outros medos...novos encontros, teimosas esperanças, mais pitadas de teimosia...Não deu para jogar fora o que passou. Olho novamente a velha gaveta. Tudo o que lá morava ainda mora. Desembrulho delicadamente todas as lembranças. Pinto meu novo retrato . Reinvento o dia.

Ana Másala
Enviado por Ana Másala em 09/12/2010
Reeditado em 20/12/2010
Código do texto: T2662005