Reflexões sobre um sonho de amor...

     Um homem conheceu uma mulher extraordinária e, desde que a conheceu, já amanhece esperando os breves momentos em que poderá ler os recados que ela manda. Se ela lhe perguntasse um dia qual era a sua mulher ideal, ele lhe diria simplesmente: “Olhe-se no espelho”. Por não encontrar uma melhor palavra para traduzir o estranho sentimento que o atrai para ela, distante e jamais vista, ele, por ser poeta, chama-o de amor e faz versos sobre esse amor.
     Depois que o poeta recolhe-se entre as nuvens douradas do seu Parnaso, surge o homem do mundo, frio, cerebral, mas, ainda assim, com o mesmíssimo sentimento que mobiliza o poeta. Mas, diferente do poeta, o homem conhece a Lei das Probabilidades e sabe que será quase impossível ter essa mulher em seus braços um dia. Sabe e não se desespera e nem se revolta, pois ninguém é culpado por suscitar uma paixão e nem é obrigado a retribui-la. 
     Assim, estando perfeitamente de acordo, o homem e o poeta, não há o que temer no cultivo apaixonado de um sonho de amor. O homem ama-a, sem poder transpor o muro das impossibilidades e o poeta ama-a “simplesmente”, como disse Vinícius de Moraes. Ou, como disse Drummond: “Eu te amo/Porque te amo/ Não precisas ser amante/ E nem sempre sabes sê-lo”.
     O sonho do amor de um homem é todo seu, inteiro, perfeito e inalienável, não se acaba com a desilusão e nem precisa de retribuição para continuar a sê-lo
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Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 11/12/2010
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