Ópio
É melhor escrever, só assim para não virar suco, nem derreter. É o que me mantém na linha, firme e forte para esquecer.
É o que me entorpece nas ressacas oriundas de minhas frustrações, dos pedidos não atendidos e da inutilidade de minhas orações.
É o que me arrefece na explosão do ódio que aparece quando esqueço o que já li, quando cometo os mesmos erros que antes cometi.
É o que me segura para não morder a granada e o pino puxar, é o que descansa minha mão para desviar o cano e o cão desativar.
Nas letras cortantes e lamuriosas, tento achar o caminho que tanto procuro, assim olho para mim mesmo e não preciso espreitar pelo buraco do muro.
Por isso não arranco os cabelos, escrevo.
Não preciso xingar, nem esbravejar. Basta fechar os olhos e digitar.
Assim meu coração desacelera, minha boca não vocifera, minha mão não dilacera.
Assim tento aprender com meus próprios erros, constantes e frequentes. Tento seguir em frente e não invejar meu oponente.
E seguir perseguindo a verdade, cuidando para não cortar os próprios dedos nos cacos da louça fina da vaidade.