Ópio

É melhor escrever, só assim para não virar suco, nem derreter. É o que me mantém na linha, firme e forte para esquecer.

É o que me entorpece nas ressacas oriundas de minhas frustrações, dos pedidos não atendidos e da inutilidade de minhas orações.

É o que me arrefece na explosão do ódio que aparece quando esqueço o que já li, quando cometo os mesmos erros que antes cometi.

É o que me segura para não morder a granada e o pino puxar, é o que descansa minha mão para desviar o cano e o cão desativar.

Nas letras cortantes e lamuriosas, tento achar o caminho que tanto procuro, assim olho para mim mesmo e não preciso espreitar pelo buraco do muro.

Por isso não arranco os cabelos, escrevo.

Não preciso xingar, nem esbravejar. Basta fechar os olhos e digitar.

Assim meu coração desacelera, minha boca não vocifera, minha mão não dilacera.

Assim tento aprender com meus próprios erros, constantes e frequentes. Tento seguir em frente e não invejar meu oponente.

E seguir perseguindo a verdade, cuidando para não cortar os próprios dedos nos cacos da louça fina da vaidade.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 12/01/2011
Código do texto: T2724388
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