IDADE DA LOUCURA (capitulo 1)

A realidade não é o que é, mas o que parece ser, e o que parece ser é sempre mutável. Foi sabendo disso que ela jogou tudo para o alto e saiu da gaiola em busca de viver a liberdade. Sem saber que já era livre. Livre, porque não havia jeito de não ser. Um dia disseram a ela que mesmo na prisão si é livre, pois cada ser humano está abandonado à própria sorte e, quando consciente, é o único responsável por seus atos. Somos livres porque não há possibilidade de não sermos. Até quando, aparentemente, deixamos que decidam por nós, ainda assim seremos livres porque não decidiriam se não deixássemos.

À noite, na solidão, olhando para o teto lembrava da filha com saudade.Não deixaria que ela crescesse imaginando que a mãe era uma desajustada, mas também não voltaria atrás, não dava para viver ancorada no cais com tantos mares para navegar.O futuro provaria que estava certa ou então que não precisava provar nada a ninguém.

A opinião do outro nos intereça apenas quando nos sentimos fracos. Quando temos a certeza de que somos fortes ela nos tem pouca importância.Quando precisamos que os outros nos convençam de que estamos bem é porque não estamos. Pode até parecer que estamos, mas não estamos porque não nos sentimos.

A opinião pública condena as atitudes daqueles que fogem dos padrões, daqueles que deixam de seguir a linha reta que lhe foi traçada. “Lá vai ela por caminhos tortos, está sem rumo, perdeu os sentidos, enlouqueceu”. Dirão tudo isso e um pouco mais. Não são capazes de ver que o caminho reto que a infeliz trilhava é que não tinha sentido, e que só agora depois de cometer a dita loucura é que sua vida passou a ter objetivos, podem ainda não estar bem claros, mas ela os tem. E o melhor de tudo é que são genuinamente seus. Foi ela que os fixou como alvos a sua frente. Os caluniadores irão dizer que alguém lhe fez a cabeça, pôs idéias malucas em seu juízo, mas ela sabe que não foi nada disso. Foi na solidão observando os pássaros que ela descobriu que também podia voar. Foi assim que uma águia abriu as asas e aceitou a plenitude de um céu sem limites.

Ela partiu em busca de fazer com suas mãos o seu próprio destino, deixando para trás um coração partido. Ele ficou para trás remoendo uma paixão misturada com ódio. Perdeu um pássaro que tinha prendido na gaiola. Talvez o tempo curasse a ferida. Como podia, um homem bom, cheio de responsabilidades, que lhe tratava muito bem, ser vítima de tamanha crueldade? Seus dias agora passavam vagarosamente, a vida passou a ser um peso que era obrigado a arrastar. Todos lhe eram solidários, comoviam-se com a dor do infeliz e fazia severas censuras, aquela que ele ainda amava. Outra mulher ele poderia encontrar, mas não acreditava na possibilidade de ser feliz outra vez. “O tempo é o melhor remédio”.Todos diziam. È um remédio amargo, mas cura.

A vida é um teatro, estamos no mundo para encenar uma estranha peça que ninguém escreveu e a cada ato aprendemos a representar cada vez melhor. Julia sem duvida, desde a infância, tinha talento para o gênero trágico. Ela tinha tudo para ficar acomodada, se sentir feliz, mas não, aquela não era a vida que havia sonhado. Tinha apenas dezoito anos, sua vida não podia estacionar ali, alem do mais... Tinha certeza que aquele não era o homem da sua vida, um dia imaginou que era, mas o tempo a convenceu que não. Era sem duvida uma criança quando se entregou aos cuidados dele, se foi por amor, por necessidade ou outra coisa quem de nós vai ter certeza? Sei apenas que a conheci e confesso que ainda não sei se foi uma coisa boa que me aconteceu. Ela surgiu na minha vida num momento em que tudo ia relativamente bem. Havia construído uma rotina e estava satisfeito, naquele momento nada precisava mudar, assim eu pensava, embora muitos em torno de mim não pensavam o mesmo, mas tudo bem, o que importa é dizer aqui que ela surgiu com seu encanto, em passos de bailarina trazendo para o meu mundo o seu charme e seu jovialidade. Vi logo em seus olhos uma ansiedade para viver. Fiquei fascinado com a beleza que me embriagava o espírito, era a encarnação de Vênus, nem mesmo um renascentista pintaria tão bem. Passei a sonha com possibilidade de me perde naquele paraíso.

Por muito tempo acreditei que o mais certo a fazer erra evitar, mas na pratica todas as minhas ações acabavam por nos aproximar cada vezes mais Era difícil resistir, Quando me vi estava brincando com o perigo, trocando socos e pontapé em praça publica. Hoje a distancia entre nós é muito grande, alem dos quilômetros de estrada que nos separam, existem duvidas e ressentimento que por mais que a gente tente não consegue superar facilmente.

Cleiton da silva
Enviado por Cleiton da silva em 26/10/2006
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