O Dia Depois

No dia seguinte tudo estava diferente.

O ambiente estava cinza e enfarruscado, assim como chuvoso.

O café estava amargo como o fundo da minha alma

e a sombra elétrica das lembranças recentes.

Eu não podia justificar o meu gozo por aquele amor,

pela ternura que em mim aparecia em relevo

toda vez que sentia aquela presença.

Tinha sido tocada profundamente,

internamente visitada e minhas fibras sensibilizadas até

meus mais longíquos horizontes.

A conquista, a entrega, as humilhações, as decepções,

as idas, as voltas...o fracasso.

(E me procura toda vez que está com algum problema

e se vai quando melhora. Um dia se tornará incurável

e ficará comigo, sem despedidas e eu o cuidarei.)

Mas o dia seguinte é sempre pálido, e enquanto o sol reflete-se

em meus óculos, penso em quando sairei dessa prisão cinzenta,

lembrando-me, timidamente, que não mereço isso.

Gostaria de esconder-me no fundo do seu armário,

e envolvida por seus ternos cheirosos

adormecer até que me encontre...

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 04/02/2011
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2771324
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