Trovejante (Artur Oneiro)

O texto abaixo não é criação minha sendo o detentor de créditos o sr. Artur Clemente Oneiro.

Obrigado pela companhia nas melhores solidões.

---

Ele voltou depois de tanto tempo. Me atirou um pouco de areia nos olhos e agitou levemente as velas ao meu redor. Eu que nunca fui desatento a essa presença queria correr logo ao seu encontro. Se eu fosse homem, o sol me abrasaria a testa e esse arruaceiro me grudaria as roupas no corpo.

Precisei parar um pouco para memorizar o momento. Aquele cheiro de sal, a areia escapava de baixo de mim e meus olhos fechados quase podiam desenhar nele. As velas ao meu redor não aguentaram esperar seu retorno. Acabaram rasgando, envelhecendo e perdendo sua rigidez, mas meu mastro nunca cansou de esperar. Agora solto minha vela, estufo ela como um peito corajoso de homem e em segundos parto. O vento arruaceiro ainda joga-me sal nos olhos mas a areia se distancia, os passaros se aquietam e só o que me resta são todos os paraisos a serem descobertos por detráz desse mar trovejante.

Artur Oneiro