CAFÉ

Suor na fronte, cansaço na face

Mãos calejadas embaixo de um sol estonteante

Os dedos vão eriçando os grãos que sustentam a casa

Grãos negros, verdes ou avermelhados

não de ouro, mas uma riqueza que sustenta a muitos

O roceiro vai

chapéu de palha na cabeça

pés no chão tórrido pelo calor

trincando os pés nas pedras do caminho

vai as vezes só,

outras acompanhado

pelos filhos a correr após dia de auxílio na lavoura

outras pela mulher, de lenço na cabeça

a expressar as rugas que o trabalho braçal

e o sol de cada dia lhe proporcionaram

Não vão tristes

vão cansados

mas felizes pela realização do dever cumprido

vão levar o ouro negro prá mesa de muitos

Ao chegar em casa um banho quente

da água da serpentina

um café no bule é preparado

parede pintada a cal

poucos utensílios

a broa de fubá sovada e mexida

agora sai quentinha do forninho do fogão a lenha

o doce aroma da broa perfuma o ambiente

o café fresquinho,

antes colhido,

torrado

e agora moído no moedor

é colocado no coador de pano

a aguá fervendo adoçada com açucar escuro

e algumas vez com melaço de rapadura

escorre do mancebo para o bule

complementa a cena

as crianças sentam-se ao banco velho de madeira

após tirarem a sujeira do corpo

os trabalhadores com seus rebentos

se refazem do cansaço do dia

e brindam ao tinlintar das canecas esmaltadas descascadas

com o precioso líquido que plantaram, torraram, moeram

e agora sorvem dignamente.

Ana Lú Portes, Juiz de Fora, 24 de fevereiro, 2011

Ana Lú Portes
Enviado por Ana Lú Portes em 24/02/2011
Reeditado em 24/02/2011
Código do texto: T2811745
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.