Rotina...

Eu acordo.

Eu levanto.

Eu olho onde estou.

Eu penso.

Eu acordo, de fato.

Eu percebo.

Eu entristeço.

Eu finalmente me conformo.

Eu busco no amanhecer da minha alma alguma razão para estar aqui.

Eu me dirijo ao banheiro.

Sento cansadamente no vaso.

Abaixo a cabeça como se buscasse respostas no desenho do azulejo.

Observo a junção do piso. Cimento. Rejunte.

Firme, mas gradativamente sendo desgastado pela água, pelo tempo e pelas faxinas vigorosas com sabão em pó e vassoura.

E olho para o ralo.

Uma vontade de ser água e escorrer pelo ralo, passa pela minha mente ainda embaçada pelo “acordar”.

Ainda não acordei totalmente.

Sinto a água esquentando em minhas mãos, mas não muito.

Lentamente tiro o pijama e entro no chuveiro imaginando uma purificação completa do meu ser.

Me concentro na água caindo no topo da minha cabeça, espalhando meus cabelos pelos ombros e costas.

A água escorre.

Observo o trajeto dela em meus contornos.

O sabão torna escorregadio o contato das minhas mãos no meu corpo.

Tento observar meu corpo no espelho, que está totalmente embaçado.

Assim é a vida.

Enquanto a gente se purifica em um maravilhoso banho quente, acaba embaçando outras coisas ao nosso redor.

E a gente só conseguirá ver o resultado assim que o banheiro esfriar e o espelho desembaçar.

Desligo o chuveiro.

Ligo as idéias.

É estranha a sensação de sair de um espaço quente e sentir o vento frio que vem da janela aberta.

Sensação de coisa errada.

Aqueço-me na toalha felpuda.

Ainda é estranho sentir só uma parte do corpo quente, enquanto o frio bate nas minhas pernas.

Preferia ter um roupão bem longo e pesado.

Ainda não sei se já acordei.

Às vezes a vida parece um sonho muito real, mas ao mesmo tempo muito bizarro e sem noção.

Qual o sentido de estar aqui?

Por que, por mais que eu tente inovar, mudar alguma coisa nesta sequência, eu sempre acabo fazendo tudo igual?

Tudo demasiadamente rotineiro.

É como se eu estivesse vivendo cada dia como se fosse o mesmo, só esperando pelo último.

Nada parece mudar.

Para melhor.

Mas também, o que eu fiz ao longo desses anos para que tudo mudasse ou melhorasse?

Cada um colhe aquilo que planta.

Pelo visto plantei apatia e mesmice.

Guardei as sementes dos meus grandes sonhos em um saquinho que perdi no meio dos apetrechos de jardinagem.

Talvez eu tenha enterrado sem querer em algum lugar e acabei não regando por total ignorância da minha parte.

Agora pego minhas chaves, minha carteira, meus óculos (sempre nessa ordem) e jogo na bolsa que sempre largo no criado mudo que fica do lado direito da cama.

Sempre dou uma última conferida no espelho.

Sempre ajeito o cabelo.

Saio porta afora rumo ao meu habitual destino.

Destino que eu comodamente escolhi no processo de “ir empurrando com a barriga”.

Fecho a porta.

Mais uma ou menos uma no decorrer da vida?

15/02/2011

Elaine Thrash
Enviado por Elaine Thrash em 01/03/2011
Código do texto: T2822031
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