CANTO DA ETERNIDADE

Os dias passavam tristes.

A dor estranha era intensa.

No meu coração não cabia mais nada.

Sentia todos os lados apertados, como se estivessem numa

prensa.

Eu tinha que me despedir... dizer adeus a um amor escolhido.

Nada ao meu alcance... nada podia ser feito... chegou a hora.

O que eu queria para mim, já tinha morrido.

Por muito tempo... sem poder contá-lo... a luz se apagou.

O dia se misturava à noite, que se fundiam nas trevas.

Na minha cama dura e fria o abismo se abria com escarpas

profundas.

O vento uivante batia no meu corpo como açoite.

Sangrava... mas não via o sangue... apenas sentia...

era como se tudo só existisse em minha cabeça... e ela era

traiçoeira.

A sensação é que ele corria quente, abrindo espaços na pele

alva, gelada, destoante de minutos, horas,... não sei dizer o

quanto.

Tudo era muito estranho, não sei onde estou.

O lugar é tão escuro, frio, os meus olhos não se acostumam.

As misturas das sensações me impedem de saber se eles

estavam abertos ou não.

Não consigo me mexer, fugir dali... não queria ficar assim

inerte.

Sinto o vento mais ameno, agora sou capaz de ouvir até

alguns sons... será?

O mesmo vento que me fazia sofrer, agora me traz

esperanças?

Eu não estava sozinha.

Eu ouvia sons de vozes, e eles gritando chamavam pelo meu

nome.

Sentia algumas presenças, e face a face disseram:

“Levanta-se, saia daí, nós somos a luz e viemos levá-la para

bem longe deste lugar cheio de trevas e angústias”. Aqui não

é o seu lugar.

Se eram as luzes porque eu não as via?

Ouvindo-os tentei levantar, mas as pernas não obedeciam,

tudo era estranho, eu não via, só percebia.

Não era a minha cama, e na maior dificuldade, titubeando,

comecei a caminhar.

O chão era liso, porem dava para sentir que estava recoberto

de algo fofo, como se tivesse um pó fino, mas eles não

ficavam nos meus pés.

Depois de alguns passos o teto daquele estranho lugar foi se

abrindo e eu comecei a ver um céu... escuro ainda por ser

noite porem pintado de vaga-lumes, e estrelas, que surgiam

a cada caminhar.

E como num passe de mágica a cada passo, pálidamente por

eles a noite ia se iluminando.

A luz ficava cada vez mais forte, clareando o caminho, a

minha existência... ou não... ainda não sei.

Ninguém fala nada. Pergunto e não obtenho respostas.

Contudo sei que no final da noite, tem o raiar do dia, e

sempre haverá um sol a brilhar límpido, brilhante, e se for

tênue, esfumaçado, ele estará lá da mesma forma, criando o

divisor da noite com o dia.

E quando as nuvens passarem dizendo adeus, ou até breve

ele surgirá.

Assim pensando retomei a caminhada e cheguei na entrada

de um túnel,sem muita abertura, e com sua frente mal

iluminada.

Parei meio receosa de entrar porem lembrei... ___ segui até

agora, e quando estou quase terminando esta caminhada vou

parar? Não... vou até o fim e ver o que me espera no final.

Entrando observei que era escuro, agora eu já começava a

ver... mas havia uma luz bem lá no fundo.

Fui me aproximando e vi dois braços abertos me

esperando... agora já dava para correr... cantar... estava

quase feliz.

A luz foi-se tornando mais forte e brilhante e de repente sinto

braços me apertando, e no meu ouvido ouço: “Oi princesa já

estou esperando há tempos... que bom que chegou... agora

seremos dois por toda a eternidade”.

Era você que estava me chamando. Das trevas o meu ser foi

liberto. Verei flores como na primavera. Minha vida nunca mais

será invadida pelo outono ou pelo inverno, com noites frias.

O meu espírito chorava, sangrava por sua ausência, passei

por todos os infernos para encontrá-lo agora que achei nunca mais quero sair de perto.

Olhei para trás e disse adeus para tudo... é com você que eu quero ficar.

Ruthy Neves

Taubaté-SP

Ruthy Neves
Enviado por Ruthy Neves em 15/03/2011
Reeditado em 16/03/2011
Código do texto: T2849897
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