22
Palavras.
Esmagadoras.
Deslizantes.
Perigosas.
Sutis.
Palavras que fazem viver.
Palavras que fazem sentir.
Palavras que fazem calar.
De manhã e à tardezinha.
Sem hora, sem lugar.
Palavras.
Um mundo.
Um fundo.
Um tiro
No escuro.
Palavras que matam.
Sem
Derramar
Sangue.
É preciso que se diga. E ainda mais preciso que venha o dia, e as palavras.
Um dia de setembro. Fim de tarde, umas cinco horas. Num lugar que não sei qual é. Em outro país. Uma rua estreita. Passam carros. E chove. Aquela luz, azul flertando com o cinza. Um transeunte na calçada, vestindo um sobretudo, mãos nos bolsos, cabeça baixa. Ah, sim. Um chapeuzinho na cabeça. Mas ninguém percebe: ele chora. Lágrimas que se confundem com a chuva, e ninguém percebe. Ele vira na próxima esquina. E eu o perco de vista. Foi-se. Foi-se. É preciso que se diga. E ainda mais preciso que venha o dia, e as palavras, e o calor, o sol.
Algo em mim parece ter-se calado. Desde que passei a flertar com a noite, a madrugada, o comecinho de uma manhã.
22/07/2008