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Palavras.

Esmagadoras.

Deslizantes.

Perigosas.

Sutis.

Palavras que fazem viver.

Palavras que fazem sentir.

Palavras que fazem calar.

De manhã e à tardezinha.

Sem hora, sem lugar.

Palavras.

Um mundo.

Um fundo.

Um tiro

No escuro.

Palavras que matam.

Sem

Derramar

Sangue.

É preciso que se diga. E ainda mais preciso que venha o dia, e as palavras.

Um dia de setembro. Fim de tarde, umas cinco horas. Num lugar que não sei qual é. Em outro país. Uma rua estreita. Passam carros. E chove. Aquela luz, azul flertando com o cinza. Um transeunte na calçada, vestindo um sobretudo, mãos nos bolsos, cabeça baixa. Ah, sim. Um chapeuzinho na cabeça. Mas ninguém percebe: ele chora. Lágrimas que se confundem com a chuva, e ninguém percebe. Ele vira na próxima esquina. E eu o perco de vista. Foi-se. Foi-se. É preciso que se diga. E ainda mais preciso que venha o dia, e as palavras, e o calor, o sol.

Algo em mim parece ter-se calado. Desde que passei a flertar com a noite, a madrugada, o comecinho de uma manhã.

22/07/2008

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 24/04/2011
Código do texto: T2928221
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