Medi(ta)ção
 
Meus pensamentos vão lentamente escorregando pelas paredes deste edifício bem arquitetado, chamado corpo. Lá dentro, meus sentidos se aquietam e só meus pensamentos crescem em demasia, chegando a extrapolar as fronteiras da razão. É assim que eles me projetam para o além, para bem distante de tudo que nos faz lembrar a matéria.
Faço um sobrevoo interplanetário. Solto os cabelos e viajo pelas estrelas, por campos diversos. Desfaço as linhas dos trópicos. Mergulho em águas profundas. Desbravo montanhas quando abro o meu coração. Atravesso córregos quando decido esquecer o que eu sou e o que seria. Ando pela África das savanas e depois massageio os meus pés nas areias do Deserto do Saara. Por lá, ouço os sinos da paz que tocam canções enigmáticas. Por lá, eu aprendo com o silêncio dos camelos. É quando posso falar de amor para quem dele já se esqueceu. E, com meu dedo indicador, toco uma estrela, e ela se agiganta dentro dos meus olhos. Aproveito para tirar um cochilo na exosfera. É um momento maravilhoso... É um eterno reencontro.

Depois, como se uma borboleta fosse, eu faço o meu regresso pousando silenciosamente em solo terrestre. E a terra, que está sempre a me esperar, abre-se em vesperal constante. Nela está a minha catedral da alma. A primeira sensação é a de entrar num altar suspenso, onde parece descer uma chuva que lembra uma pintura arabesca. E eu, já em configuração plena, me entrego nos braços da natureza esplêndida.

Só assim percebo que a minha alma não tem tamanho. Todavia, o meu corpo teima em me dizer que sou pequenina.