Deixe-me entrar


      Peço-lhe que me deixe entrar. Espero há muito tempo, dias, meses, anos, décadas, não sei mais quanto. Quero muito entrar e sentir o seu amor, ficar ao seu lado. Só quero estar ao seu lado. Abra esta porta que divide o nosso mundo, separa em dois as nossas vidas. Deixe-me entrar. Aqui fora faz frio, está escuro, sinto-me sozinho. Ouço o rosnar dos lobos e seus uivos nas noites de lua cheia. Eles estão chegando, se aproximando cada vez mais com suas garras e dentes afiados. Por favor, eu quero entrar! Eu lhe peço, suplico, imploro. Deito a minha vida na palma de suas mãos e renuncio a tudo que tenho mas, por favor, deixe-me entrar! Não tenho a chave, tampouco conheço o segredo. Não consigo abrir sozinho sem a sua ajuda e às vezes me desespero. Penso que nunca entrarei. Então forço a entrada, quero derrubar esta porta que não me deixa ver o que há do outro lado. Maldição! Vou explodir este portão que me afasta, isola e reprime. Não consigo. E eu já não sei mais o que fazer para chegar até você. Não sei mais. Então me entrego...

      A porta não está aberta e nem nunca estará 
      Esta porta simplesmente não abre 
      Não abre para você não sair 
      Você já está dentro 
      Não olhe para fora, olhe para dentro e verá 
      Olhe para dentro e verá que já estou ao seu lado 
      O tempo todo ao seu lado
      O tempo todo

      Quase sem querer, consigo olhar. Olho para dentro. 

      E a porta se abre.


Maio de 2011

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Este texto faz parte do exercício criativo "Porta Aberta".
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