Lacunas dos desejos

Entre a satisfação dos nossos desejos e a realidade sempre ficam algumas lacunas. Por dois motivos. Primeiro, porque desejamos sempre mais do que a realidade, vontades novas aparecem sem parar. E segundo, é que algumas dessas lacunas devem mesmo ser preenchidas por outros meios, diferentes da concretização do desejo.

Existem muitas formas de tapar os buracos, as tais lacunas. E tapa-buracos é diferente de quebra-galho. O buraco deve ser tapado definitivamente.

Um tapa-buracos bem eficaz é o tempo. Primeiro porque muitos desejos requerem tempo, um momento oportuno para se realizar. Mas também porque com o tempo, nossos desejos vão mudando, e aquilo que queríamos deixa de ser o que queremos. Ou seja, um ex-desejo não precisa mais ser satisfeito.

Existem também aqueles desejos que não devem mesmo ser realizados. Porque não seriam o melhor para nós. São desejos prejudiciais. Algo cuja concretização nos causaria ainda mais sofrimento do que a sua falta. Então, felicidade neste caso é a não satisfação dos desejos. Sendo assim, para ser feliz não é preciso ter todos os desejos satisfeitos.

Depois dessas, as lacunas que eventualmente sobrarem serão preenchidas com a fantasia. “Algumas fantasias nossas jamais serão realizadas, continuarão eternamente no plano da fantasia”, disse uma vez o meu irmão. Tem toda razão. E elas são necessárias para tornar a nossa realidade mais completa. Ou seja, a fantasia faz parte da realidade. É o cimento que une os tijolos reais na parede da vida.

Quando ouvi meu irmão dizer aquilo, achei uma lástima reconhecer que não podemos realizar todas as nossas fantasias. Por quê? Porque algumas delas cairiam nos dois outros motivos das lacunas dos desejos que citei: ou porque com o passar do tempo tais fantasias deixam de serem fantasias desejadas, ou porque não nos satisfariam conforme fantasiamos.

Ao final, vemos então, e nos tranquilizamos, que entre a satisfação dos nossos desejos e a realidade que percebemos existem sim muitas lacunas, todas elas preenchidas de alguma forma.

(Catalão, 20/06/2011)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 26/06/2011
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