Paredes surdas

Neste instante prefiro a mudez. A incomunicabilidade dos planetas que congelam sozinhos no infinito das galáxias que explodem. Isto não me interessa. Só o a brisa que soprou feito sopro de mãe a franja reta asiática da menina que corre no parque. Quero apenas ser ouvidos surdos de paredes brancas de quartos vazios, mas desejo ouvir dedos hábeis delicadamente nas teclas de um piano a criar sons que deixem nossos travesseiros fofos para um sono profundo de uma noite de estrelas. O discurso não me interessa. Quero apenas a melodia de dedilhadas numa harpa, equilibrando as pontas dos dedos dos pés calejados de uma bailarina. A história não me interessa. Quero ouvir o sonho real que brotou da doce vida das crianças. O futuro, agora não. Só um presente que seja mais que todas as estórias de todos os tempos e de todas as épocas. Não quero a promessa. Só a flor que desabrocha quieta e perfeita no jardim do quintal de minha avó. Não quero esta glória. Só o vento batendo em meu rosto na montanha que desço correndo ainda criança. Não quero caminhos. Só passos soltos e leves, vagabundos, em areia fofa de praia com lua.

Josué Mendonça
Enviado por Josué Mendonça em 01/12/2006
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