Fauna & Flora: O VERDE DA MATA

Pode pensar-se, ou mesmo dizer-se, que o verde é simplesmente verde. Mas não é. Nunca o verde é simplesmente verde - é sempre complexa- mente verde.

Observem-se as nuances, as sombras, os brilhos. Os toques de veludo, de cetim, ou de serapilheira agreste. E como tudo se reflecte e nos atinge em incontáveis tons que nem o nosso mais minucioso olhar destrinça. E como nos tons se adivinham cheiros, mais ou menos silvestres, ou densos, ou ténues, ou voláteis. E como na sinuosidade das formas sentimos o gosto, doce ou amargo, ácido ou acariciante, desta Natureza em festa...

Poderia ficar, infinitamente, a escrever ou pensar sobre minudências irrelevantes, tais como os tons de verde no arvoredo, ou o seu aspecto pontilhado ou de pincelada larga impressionista, de surpreendente brilho ou elegância realista.

Certo que ninguém, senão eu, retiraria prazer dessas análises minimalistas e imprestáveis. Mas que fazer? Se tirar eu prazer, é já alguma coisa! A tantas tarefas me dedico que ninguém consolam - nem a mim própria, que as executo pelo sentido do dever...

De minudências vivo. E é bom viver, ainda que de minudências e não de grandiosidades.

Debruça-se, agora, o meu pensamento de uma perigosa balaustrada. Paro. Equilibro-me. Arrepio caminho, pois que não desejo enveredar por ideias menos verdes, menos brilhantes. Quero reter-me nas sensações minúsculas. Quero deter o meu olhar nas rugosidades do tronco, distinguir o clamor das folhas, sentir a suavidade das pétalas.

E, assim, satisfaço-me com o calor do sol, o aroma das flores, a frescura da brisa... com todo esse supérfluo que é, afinal de contas, o essencial.

Tenhamos saúde, paz e amor, e que mais podemos desejar? Simplesmente o verde, tão complexamente verde, tão naturalmente verde, da mata...

Ilona Bastos
Enviado por Ilona Bastos em 05/12/2006
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