Anhangabaú - O Vale dos Que namoram
Quem diria que onde o diabo andou sobre as águas viraria um lugar tão romântico?
Anhangabaú - Rio do Diabo.
Certa vez, quando o Anhangabaú ainda não havia sido canalisado, e era limpo, começo do século XIX, Luís Inácio Azevedo foi ver sua amada que morava na esquina da Quintino Bocaiúva com Senador Feijó, que não tinham esses nomes, e subiu na famosa Cruz Preta onde todos rezavam quando dobravam a esquina e alcançou seu quarto, dias e noites isso se repetiu, até que os invejosos rapazes que estudavam com ele na Academia de São Francisco cortaram de madrugada a cruz para que Luiz não mais entrasse no quarto da amada.
A cruz foi arrastada e jogada onde?
A cruz foi jogada no rio do diabo.
Será que é por isso que o rio deixou de ser do diabo para tornar-se dos que amam?
Essa história é real, e Luiz Inácio é pai do imortal Manuel Antônio ÁLVARES DE AZEVEDO.
Em noites estreladas
O vale onde o diabo navegava
Afoga-o sob a cruz preta
Que o boêmio escalava
Pra ver sua amada musa
Que a ele também amava
A inveja dos rivais
Cortou o madeiro que imperava
No coração da garoa
Onde o fiel povo rezava
Levaram-no para o rio
Que o índio denominava
Ser posse do tinhoso
Que à humanidade enganava
Dizendo ser dono daquele
Paraíso que emanava
Águas que regavam o “chá”
Nelas, a escrava lavava
O viajante cansado
Sua sede saciava
E satanás ardiloso
Ali constante saltava
Como se criador fosse
Era só o que faltava
Ali foi jogada a cruz preta
Onde o estudante namorava
Anhangá imergiu pra sempre
Junto com a cruz que afundava
O rio foi canalizado
Enquanto o vale se levantava
E hoje os casais namoram
Onde o mal encarnava
E hoje é nosso lugar
Onde com emoção te beijava.