Anhangabaú - O Vale dos Que namoram

Quem diria que onde o diabo andou sobre as águas viraria um lugar tão romântico?

Anhangabaú - Rio do Diabo.

Certa vez, quando o Anhangabaú ainda não havia sido canalisado, e era limpo, começo do século XIX, Luís Inácio Azevedo foi ver sua amada que morava na esquina da Quintino Bocaiúva com Senador Feijó, que não tinham esses nomes, e subiu na famosa Cruz Preta onde todos rezavam quando dobravam a esquina e alcançou seu quarto, dias e noites isso se repetiu, até que os invejosos rapazes que estudavam com ele na Academia de São Francisco cortaram de madrugada a cruz para que Luiz não mais entrasse no quarto da amada.

A cruz foi arrastada e jogada onde?

A cruz foi jogada no rio do diabo.

Será que é por isso que o rio deixou de ser do diabo para tornar-se dos que amam?

Essa história é real, e Luiz Inácio é pai do imortal Manuel Antônio ÁLVARES DE AZEVEDO.

Em noites estreladas

O vale onde o diabo navegava

Afoga-o sob a cruz preta

Que o boêmio escalava

Pra ver sua amada musa

Que a ele também amava

A inveja dos rivais

Cortou o madeiro que imperava

No coração da garoa

Onde o fiel povo rezava

Levaram-no para o rio

Que o índio denominava

Ser posse do tinhoso

Que à humanidade enganava

Dizendo ser dono daquele

Paraíso que emanava

Águas que regavam o “chá”

Nelas, a escrava lavava

O viajante cansado

Sua sede saciava

E satanás ardiloso

Ali constante saltava

Como se criador fosse

Era só o que faltava

Ali foi jogada a cruz preta

Onde o estudante namorava

Anhangá imergiu pra sempre

Junto com a cruz que afundava

O rio foi canalizado

Enquanto o vale se levantava

E hoje os casais namoram

Onde o mal encarnava

E hoje é nosso lugar

Onde com emoção te beijava.

Danilo Macedo Marques
Enviado por Danilo Macedo Marques em 15/12/2006
Código do texto: T318704
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