Pecados Miúdos

Me assaltam diariamente uma penca de pecados miúdos, me socorro na oração...quase sem solução...não parece haver salvação, sem absolvição...e não encontro refúgio cá dentro, dessas tolices de mim...

Brotam na retina retratos de mim, contornados nas horas de aflição, espelhado em profundas rasuras na íris magoada...que verte lágrimas salgadas como veios de mares...

Desenham-se nos meus olhos parados...calados, um distanciamento...quase um lamento silencioso que se lê nas marcas das noites mal dormidas...nas pálpebras tingidas em arco íris para esconder insônias gritantes...

Pelos dias que guardo essa réstia de miúdos pecadinhos, teço um rosário de aflições...tiranos medos, que me ameaçam a razão...a emoção...por esses dias perfeitos quando luto contra minha heresia e me esculpo como promessa de doce alquimia...canto em versos sincopados...são nesses dias que me anseio como gente...me entendo como sobrevivente dessa cadeia que me aprisiona...e me basto...somente...

Em cada dia que me afasto do confessionário sem receio, esqueço o peso das culpas e me abraço cúmplice das certezas que provam que estar viva é o que vale...e que a cumplicidade da minha alma atéia, faz olhar-me com olhos serenos...sem a maldade do mundo. Talvez eu seja de mim mesma um deboche, um fantoche das minhas dúvidas, atadas num medo inóspito que me habita a revelia da minha propagada liberdade...

Me aprendo todos os dias...me surpreendo com a nova pessoa que nasce em mim todos os dias...

mantenho em repouso a essência preciosa da mulher

que sabe o que quer e dispensa todo aparato,

pra sonhar simplesmente...e plantar poesia nas janelas do dia...e viver cada minuto dessa solidão como a magia de quem tem o mundo mais silenciosamente povoado.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 07/07/2005
Código do texto: T31918
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