Só
Tudo em mim exala álcool,
até a alma.
Esfrego os lábios com a ponta dos dedos.
Resta-me um beijo que se foi.
- Eu... eu...eu não me lembro como foi,
só o gosto que aprisionou meu coração.
- Por que tinha que ser assim?
Preciso de mais um porre,
esquecer o que passou.
Quero esquecer duplamente esse jogo da memória.
Esquecer o esquecido.
Tragar um cigarro
e fingir que nada aconteceu comigo.
- É isso, será que tenho um cigarro?
Impaciente,
sem hesitar,
retiro da bolsa objeto por objeto.
- Isso não,
esse outro muito menos,
cadê?
- Que merda, maldita hora.
- Só preciso de um trago.
- E agora, o que eu faço pra me aturar?
- Não suporto lágrimas,
juro que dessa vez não choro.
Engulo o choro humildemente.
- Ai minha cabeça,
são tantas voltas sem volta.
Fixo os olhos no chão
e miro os objetos que joguei.
Um espelho,
um estojo de maquiagem,
alguns preservativos...
Esse batom vermelho enche meus olhos,
de um vermelho intenso que desconheço,
ele quer me ser.
Tenho medo,
mas o quero.
O pego,
o admiro
e sorrio histericamente.
Finalmente ele me tem..
Marco o corpo literalmente,
me compondo de palavras.
Bem me quer,
mau me quero,
bem me quero,
só me querem.
Aaaaah...
Tento caminhar,
caminho toda torta
como uma bailarina
que não sabe bailar,
mas não sei pra onde.
Ouço o barulho do mar,
sinto o frescor da areia
e os pés molhados.
É aqui que quero ficar.
O mar é tão lindo,
me apaixonei por ele a primeira vista,
na aurora da minha infância.
Eu não queria chorar.
Mas ele é tão lindo.