Enquanto a areia cai.
E o tempo ali, parado, enquanto corria feroz o pensamento, desobedecendo e desordenando o espaço-tempo. Foi assim que percebeu quando, de súbito, a consciência lhe esmagou o corpo fazendo escorrer, através dos olhos, toda a água que lhe arrefecia o calor intenso da vida.
Ah! Maldita hora! Maldito pensamento, que suscita a ciência daquele ingênuo sentimento. E o tempo? Parado. Lento pensa em talvez não mais andar.
E o pensamento continua. Corre, vai e volta. Cria outro e a outro conhece; leva e traz. A cabeça dói. Dói porque é árduo, hercúleo, descrever e mapear o pensamento pelo pensamento. Pensar no que é pensado e no que se pensa pensar. Mas penso e não paro. Não paro até o tempo andar.
Enquanto isso, atormentado e aflito, tenho que prever sempre neste estado agitado-fixo.
Um barulho! O tic toca lentamente sua ensurdecedora trombeta. Até o tac levará cem anos. Cem anos passaram logo.
O tempo volta a correr. O pensamento vai parando, já cansado e pesado enquanto tudo se assenta. O olhar já não só enxerga o borrão manchado e o rio, parando de correr, seca. Arde a luz clara da árida entrada do mundo vivo e colorido ao corpo.
O peso continua ali, mas já não machuca, pois já está tudo dilacerado; tudo destruído. Caminha agora o pensamento que corria e jaz cansado. O querer prever permanece, pois este nunca cansa e nunca alcança.
E assim o moribundo vai melhorando sem se curar da doença; vai se preparando para mais um ataque do peso maldito, arremessado pela doce mão que traz a infecção e guarda, no ocultamento das negações seguras, o antídoto.
O tempo corre até tudo parar.