Valsa do arabesque caído ao negrume.

Foi confortante pensar que tudo iria acabar um dia. Não foi confortável, porém, esperar esse dia chegar. Joguei-me por isso nos braços alheios e eles me seguraram, agrediram ou me deixaram cair – assim como você fez. Mas enfim levantei e subi bem alto – alto mesmo – e me joguei ao chão. Mas alguém me segurou e não foi você. Corri então até não poder mais, fiquei sem ar e tudo começou a escurecer. O ar voltou, porém, aos meus pulmões e o sopro não veio de ti. Desesperado, procurei a solução na pólvora do homem. Só assim alguém me recebeu e não foi você. O frio me trouxe para onde os olhos estão sempre fechados e os corações são sempre amargos. Todos aqui deixaram um amor ou deixaram de ser amados. Eu, porém, não sei em que grupo me classifico, se vou ou se fico. Ir pra onde? Alguém me chama e não é você. É um choque ardente que, de repente, traz uma dor cegante aos olhos. E o calor me leva, então, para onde todos os olhos estão sempre abertos, mas nada enxergam. Onde todos os corações estão docemente cheios de esperança, tão inocentes e tolos que são capazes de te deixar feliz por um instante. Nessa vitrine palpitante e colorida passo por muitos deles, menos pelo seu. Então procuro desesperadamente uma pessoa doente, uma pessoa que, assim como eu, vive nas sombras dessa amarga gente. Descubro que há infinitas dessas pessoas, descubro também que você não é uma delas, pois essas pessoas vivem de olhos fechados e seguram sua respiração por tanto tempo que seus corações param. Elas ficam frias e conseguem ficar um tempo infinito sem se mover. E o que faço eu aqui? Eu deveria estar com você, mas você não deveria estar comigo. Parto então. Subo bem alto e salto com a certeza que não há braços que me segurem. Enquanto caio, prendo a respiração e fecho os olhos. Meu coração pára e eu fico eternamente assim.

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 09/10/2011
Código do texto: T3266358
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