Livros

 
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Há quem passe por eles indiferente, quem ache que enfeiam, entulham, sobram, em qualquer ambiente.
Há quem passe sem eles...
Mas há quem, como eu, de um jeito torto, ingênuo e  romântico de entender o mundo, entender o indizível, o imponderável, busca no convívio fraterno com os seus e os livros as perguntas e as respostas para ressignificar o que sente, o que pensa, o que é.
Sem eles, os meus e os livros, não seria nem de longe o que quero e pretendo continuar sendo: gente!
 
 

Livro: a troca 
 
Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa, eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar as parede).
Primeiro, olhando desenhos; depois decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e, de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabanas, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros e levantar a casa onde ela vai morar. 
 
Trecho de “Livro – um encontro”, de Lygia Bojunga, Ed. Casa Lygia Bojunga.
 
 

Na festa da V bienal Alagoana do livro