(De) compondo Camões
Amor é fogo que arde sem se ver, olho as chamas da minha lareira e vejo o quão efêmeras são as labaredas, posso ver, sentir o calor, mas não dura muito e logo me abandona, é ferida que dói e não se sente, nem poderia, posto que quem ama não fere, no máximo dá um puxão de orelhas, pra ver se se acomoda, é um contentamento descontente, puxa vida, amar é inexplicável mesmo, é dor que desatina sem doer, quem já não perdeu noites de sono pensando no ser amado, é um não querer mais que bem querer, feito briga de rusga, um não querendo dar o braço a torcer, morrendo de vontade que o outro tome a iniciativa, é solitário andar por entre a gente, volta, só tu preenches o vazio do meu coração, é nunca contentar-se de contente, e mesmo que contente, vai sempre dizer na despedida: fica só mais um pouquinho comigo, é cuidar que se ganha em se perder, às vezes quando a gente perde a gente ganha, nem sempre é bom estar totalmente certo, é querer estar preso por vontade, o ser amado não bota argolinha no tornozelo, quem é livre sempre volta, é servir a quem vence, o vencedor, se eu tivesse mil vidas, mil vidas eu te daria, é ter com quem nos mata lealdade, quem disse que no amor tem lógica, mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, melhor confiar incondicionalmente que nunca vais me fazer sofrer, pois já desisti faz horas de tentar entender, se tão contrário a si é o mesmo Amor.
Técnica: fluxo de consciência