Ele e eu

Eu na flor da adolescência, com minhas mechas ruivas e unhas pretas. Ele na flor da juventude, com seu jeans rasgado e um sorriso maroto estampado nos lábios.

Toda sexta, ensaio no teatro, eu no piano e ele no baixo. Uma dupla inigualável de amantes não declarados.

Por vezes, deitados no chão do palco, conversando coisas avulsas, ele rolava sobre mim, aprisionando-me em seus braços magros e beijando-me furtivamente. Um tocar de lábios clandestino, por pouco reparado pelas austeras autoridades!

Éramos um contraste de irreverências. Acusadores eram os olhos que nos mediam. E indiferença era o que colhiam.

Poupávamos as palavras desnecessárias. O futuro não era mencionado. Não idealizávamos nada que não fosse o presente. Nem nunca dissemos que o que tínhamos era para sempre. Porque não era preciso, de alguma forma, acreditávamos em silêncio.

Hoje, só posso dizer, fomos dois sortudos enquanto durou.

Bruna Maia
Enviado por Bruna Maia em 07/11/2011
Reeditado em 15/08/2012
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