Ele e eu
Eu na flor da adolescência, com minhas mechas ruivas e unhas pretas. Ele na flor da juventude, com seu jeans rasgado e um sorriso maroto estampado nos lábios.
Toda sexta, ensaio no teatro, eu no piano e ele no baixo. Uma dupla inigualável de amantes não declarados.
Por vezes, deitados no chão do palco, conversando coisas avulsas, ele rolava sobre mim, aprisionando-me em seus braços magros e beijando-me furtivamente. Um tocar de lábios clandestino, por pouco reparado pelas austeras autoridades!
Éramos um contraste de irreverências. Acusadores eram os olhos que nos mediam. E indiferença era o que colhiam.
Poupávamos as palavras desnecessárias. O futuro não era mencionado. Não idealizávamos nada que não fosse o presente. Nem nunca dissemos que o que tínhamos era para sempre. Porque não era preciso, de alguma forma, acreditávamos em silêncio.
Hoje, só posso dizer, fomos dois sortudos enquanto durou.