A felicidade se demitiu

Confesso as atipicidades das ultimas semanas, confesso que jurei por nada. Confesso que foram dias em vão mas que se esvaíram na hora correta.

Passei quinze dias em meio ao grande barulho, me lembro dos corredores, cinco portas do lado esquerdo e seis do direito, uma grande senhora negra vestida de branco trazia os calmantes, sentia meu corpo prestes a cair várias vezes. Me deitei, me fechei, feri e queimei todas as dores.

Muitas dores, agora aqui realmente me é claro, e volto a pensar naquele passado,mas que passado.

Todos vieram,um de cada vez, no tempo indevido porém chegaram, nunca pediam licença, a minha ansiedade também não permitia.

Mais um segredo, não sinto falta de nada, sinceramente a tal felicidade se foi, ela me pediu pausa para férias, foi para o hemisfério norte, acredito que se auto demitiu, nenhum telefonema,maldita ingrata trabalhou tão pouco para minha vida, obteve reconhecimento quando mereceu, mas não se acha digna de subserviência. Parece que a vejo tomando Vodka pura e fumando um cigarro barato, essa moça sempre riu de nossas caras.

Certa vez foi ousada e me disse:

- “Pobres egoístas, nunca sentirão o meu verdadeiro prazer, continuarão desejando a senhora Felicidade, eu não estou a venda, vocês tentam me comprar todos os dias, sinto pena, pois o que resta a seres ignorantes é apenas a madrasta Infelicidade.” Assumo que o frio subiu minha coluna, parecia um aviso, ela estava disposta a “chutar” tudo, e eu fui a primeira vitima.

Quando Ricardo chegou éramos jovens demais, pouca paz e muita dúvida, caímos para nada.

Depois passamos anos meditando os erros, nos enclausuramos, nos privamos, porém sobrevivemos.

O retorno foi chocante uma grande onda, uma grande tempestade, João permaneceu por meses apenas, ele nunca tinha tempo, então o expulsamos.

Lucas trouxe um novo pesar, outro erro, outra mágoa, logo este foi excluso para sempre, sinceramente não foi preciso muito tempo para saber das suas intenções.

Flávio, um psicólogo era quase perfeito, se não fosse seu instinto de ator latino, demais para o momento.

Nos dividimos por hora, entre paixões relâmpagos, era perfeito, simples e rápido. Livros, aulas, filmes, viagens, ruas novas, bares novos, novas amizades.

A maturidade veio cedo demais e a doença do amor nos picou, queríamos uma vida inteira juntos, então junto com Juliano vieram os anéis, as trocas, as brigas, as desconfianças, os segredos, os medos, ciúmes, individualidades, incompatibilidades. Este livro não, aquele filme não, esta roupa não; “porque você está olhando para o lado?” Por que? Por quê? Porque sim. Cansei, por isso parei aqui.

Meus caminhos tortos, foram representados numa tela maravilhosa, meus caminhos foram exemplos de que a vida, a felicidade e a infelicidade nos armam grandes armadilhas.

Eu criei um genérico da “Felicidade”, longas horas de conversa afiada, duas sessões de cinema por semana, uma boa sobremesa pelo menos uma vez na semana, chocolate, uma bebida com uma conversa olho no olho, música todos os dias, dançar sempre que possível, cantar para ninguém, cantar para alguém, cantar alguém, elogiar as pessoas queridas, presentear que te faz sentir vivo, abraçar com força quem conhece seus segredos para que eles perdurem, fazer uma piada ridícula todos os dias, rir das coisas bobas, chorar com cenas fortes, tolerar os erros alheios, ouvir mentiras e fingir que crê, dizer mentiras para alguém não sofrer, ver o mesmo filme dez vezes apenas pela força das boas companhias, se permitir ser especial, se permitir sentir saudade de alguém que não seja da sua família, sentir a presença de qualquer animal, e expulsar da vida aqueles que sugam energia, nunca se fechar para as novas possibilidades da vida, não esqueça, que nada é por acaso, se desligue das imagens sociais convencionadas por um meio de informação falido.

Se deixe ser, sinta seus pés fora do chão um instante, este remédio não está a venda, porém é mais que claro que cada uma poderá manipular o seu, o meu eu já encomendei.