Os Loucos da Minha Rua

Domingo, 09.00h.
Saio animada para um encontro festivo.
Atravesso a rua com passos decididos: olho ao redor, estou sozinha na calçada aguardando o ônibus.
Os carros trafegam lentamente, a cidade parece adormecida.
Sinto medo, ocupo a mente, os ponteiros avançam:  09.30h.
Da porta de uma loja entreaberta projeta-se um vulto:
percebo em sua mão o talão de contravenção.
Seus passos procuram manter-se em linha reta, não consegue. Ali, parado, foi solicitado por uma mulher
surgida do nada. Traços fortes delineados pelos maltratos da vida, ares de alinenada, um tanto deprimida, quase clamando para ser ouvida. 
Pronuncia palavras desconexas mas entendo que o abandono da filha é motivo da conversa.
Descontraio-me olhando de soslaio:-
 - mais uma louca da praça de maio?
 
Minha rua já foi nua e singela; rendeu-se, sem pudores, à modernidade; crescem espigões sem estrutura; dormem cães nas calçadas sujas e reveste seus loucos de alguma verdade.
 
Rogoldoni
04 12 2011






 
Rosângela de Souza Goldoni
Enviado por Rosângela de Souza Goldoni em 05/12/2011
Reeditado em 04/10/2021
Código do texto: T3373936
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