Último trote

"...fugir é arriscado;

à base de capim e milho é alimentado;

ao chicote do patrão está sempre obediente;

resta só um pouco do que era antigamente".

Cavalo sem dono selvagem - GOG

Do alto eu pude ver.

O pobre sofreu muito antes de morrer.

Levou chicotadas, chutes e ferroadas. Humilhado, para todo mundo ver.

Trabalhou sem água, puxando a carroça pesada, no asfalto da cidade que nunca pára.

Escoriações, carrapatos e a sola do casco em sangue vivo.

As costelas aparentes...notei que estava desnutrido.

A boca ferida pelo bridão, os olhos tristes...direcionados pelo tampão.

Mas, uma chicotada mais forte fez com que se abrisse uma porta.

Até o fraco quando covardemente agredido se revolta.

Arrebentou o arreio, saiu do varão.

Deu um coice no carroceiro e ganhou o chão.

Saiu louco, em disparada.

Não respeitou a avenida movimentada.

Pulou um carro, atravessou o canteiro, derrubou o motoboy.

Levou um tiro, depois outro, em lugares onde dói.

Caiu à frente, depois de um bom galope.

Agora está livre, chega de chicote.

Deitado no asfalto quente, descansou do último trote.

Eu vi o que ninguém viu.

Do olho esquerdo de um cavalo velho,

Uma lágrima solitária caiu.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 20/12/2011
Reeditado em 17/01/2012
Código do texto: T3398614
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