alucinação de mim

a agonia desse vazio tornou-me indefeso e mudo. já se foram os raios da tempestade nefasta que se apoderou dos quatro cantos de mim. eu... nu.. eunuco e vazio das parecidas ruas onde caminhava sem destino a fim de encontrar o novo que de novo me faria sorrir. pesadas estas lembranças... cansadas estas rugas... medrosas as virgens que adormeceram antes do tempo na inquietude das palavras dissolvidas num copo de gim. tudo é tão sem graça... distorcidos permanecem os desejos ainda que martelados pela covardia do não prosseguir como réptil alucinado ao encontro de não se sabe o quê. a casa louca toda oca e eu aqui... indefeso e mudo à procura mística e febril das vibrações ancestrais tingidas pelo tempo. quase enloqueço... mas o escuro é clarão ante o espaço cinzento da fotografia presa à parede... presa à intimidade... à intimidade da parede. luto contra todos os fantasmas que restaram. eles são muitos e tornam-me indefeso e mudo na sangria alucinada do abrir e fechar portas e portões já trancados por mim mesmo. o rangir dobradiço e sem dó do pensamento faz vital uma espécie infeliz de venturas diante dos olhos que cerram-se em prol dos sonhos. seria um desejo único... perverso... egoísta... sórdido... mas humano... essencialmente humano de satisfação carnal. o vazio agonizante transformou-me em lucidez e empalideci já taciturno diante da porta. a mala que jamais trouxeram se via encostada ao canto a exibir a alça feito uma mão retraída à espera de uma outra retraída mão também. abaixei os olhos... observei os pés que tantas vezes foram metidos pelas mãos e sorri quase sem graça em meio àquele pesadelo. segurei sem força a mala... aquela mala... atravessei a porta em direção ao gradil... deixei-o para trás e discretamente sorri um sorriso meio que canalha de onde escorreu a vingança. parti nu e vazio dos medos que restaram... porém a agonia das ruas tornou-me consciente e com voz. sou livre e hoje...para a felicidade minha que pensei nunca ser conquistada... aquele homem ainda chora sozinho... sozinho num outro cômodo da casa... cômodo no qual jamais ousei entrar.

Marco Carneiro
Enviado por Marco Carneiro em 10/01/2007
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