MORTE DE JOSÉ E MARIA

No dia em que José e Maria morreram, nasceu algo em mim. No dia em que José e Maria morreram, nasci com mais cálcio, nesse dia, foi possível constatar a decrepitude presente no que outrora era visto como um homem, com os olhos lacrimejantes de covardia e com seu ombro fazendo uma escora obrigatória no portão, no dia em que José e Maria morreram, nasci mais duro, fiquei mais forte, descobri a realidade da vida, descobri que toda relação, de certa forma, é uma relação de interesses.

Maria era dura, Maria tinha até coração, mas era um coração especial, feito sob medida para o seu egoísmo. Verdadeiramente não sinto falta de José, nem de Maria. Na verdade, até sinto, mas sinto dos falsos, não dos verdadeiros, não do José covarde e nem da Maria que não permite que ninguém tenha a audácia de tirá-la de sua rotina, esses que tentaram fazê-lo, tiveram suas cabeças cortadas e atiradas ao relento.

Não posso dizer que Maria e José morreram sem valores, eles até os tinham, mesmo sendo falsos, mesmo super valorizando os “achismos” dos vizinhos, mesmo achando certo o errado e errado o certo. A crítica quanto a isso é pouca, pois são conceitos subjetivos, mas creio que a lei de Gerson não seja o melhor exemplo que poderia ser dado aos outros.

No dia em que José e Maria morreram, morreu junto o passado, e ganhei um mórbido presente, no dia em que José e Maria morreram, descobri que na verdade eles não estavam vivos, apesar da falta de sentido dessa afirmação, ela é verdadeira. Descobri ainda que eles nunca haviam tido a oportunidade de viver, ou na pior das hipóteses não quiseram aproveitar as oportunidades para isso, mas quero crer que elas não foram muitas. Descobri ainda que o defunto de Maria foi morto pelo defunto de José, e o defunto de José foi morto pelo defunto de Maria, e eu só tenho uma preocupação com tudo isso, será que um dia eles se perdoarão?

Sérgio Souza
Enviado por Sérgio Souza em 10/01/2007
Código do texto: T342326
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