VAZIO...

Faltavam poucos minutos para as 12 badaladas da meia-noite. Final de 2011 e início de 2012, mas nem mesmo essa data tão expressiva fez com que Elizabete se animasse. O dia 31 de dezembro era como qualquer outro, não tinha a menor diferença, ao menos para aquela mulher que já não sentia mais prazer em nada nesta vida.

Com cabelos despenteados, de pijamas e descalça, passou o último dia do ano no escuro do seu quarto, sozinha, quieta, olhando para o nada. Nem mesmo uma lágrima conseguia exprimir... Seu corpo não respondia a nenhum estímulo, era como se vivesse esperando a morte, mas não tinha coragem de tirar a própria vida.

Então, seguia os dias na total inércia. Acordava todas as manhãs pontualmente às 6h, tomava uma ducha rápida, vestia-se com qualquer roupa, não se importava; maquiagem, nunca usou, tomava um café preto e ia para a loja, na qual trabalhava como estoquista. Não tinha amigos, não participava de festas, apenas fazia seu trabalho, sem qualquer alegria.

Seus olhos eram tristes e seu sorriso jamais resplandeceu em sua face quando adulta. Elizabete não tinha namorado e seu corpo flácido e fraco sequer sentia desejo. Ano após ano, ela foi construindo um vazio ao seu redor, e esse vazio foi consumindo seu corpo, sua mente, sua alma.

As janelas de sua casa estavam sempre fechadas; os vizinhos desistiram de tentar se aproximar. Na verdade, eles sentiam certo receio, medo, pois os olhos de Elizabete não tinham vida, sua pele pálida e cabelo desarrumado davam-lhe um ar sombrio. Desde que se mudou para aquele bairro, nunca recebeu visita. Não tinha telefone em casa e as únicas correspondências que recebia eram as contas e, raramente, algum folheto publicitário.

Ninguém conhecia sua história e nem se atrevia a querer descobrir. Era da casa para o trabalho e do trabalho para casa. A única mudança de rotina era a ida ao supermercado ou algum comércio próximo. Sempre cabisbaixa, parecia querer esconder-se do mundo, de si própria. Assim, vivia a triste e enigmática Elizabete. Uma mulher anulada dentro de sua própria vida.

Na rua, a contagem regressiva começava: 3, 2, 1... Enquanto os fogos de artifício estouravam na vizinhança, Elizabete se mantinha no seu quarto, deitada na cama. O ano de 2012 começava naquele momento e Elizabete verificou o despertador, faltava pouco para as 6h da manhã.

Apenas mais um dia...

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Marcela Re Ribeiro
Enviado por Marcela Re Ribeiro em 21/01/2012
Reeditado em 03/03/2020
Código do texto: T3453584
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