Livreto Negro

Sentado calado, à frente do pálido outono

Pintando com poucas cores pelo pincel mágico

Do poeta de formas,

Refaço em mente o caminho que tracei

Em tintas, teclas e silêncios.

Desfaço qualquer lógica que possa parecer real.

Meu ouvido se cala, meus olhos piscam, minha boca seca.

De fronte pro vazio antigo, agora em superfície manifestada

De meia boca cheia, meia pétala solta e meia carta postada,

Prostro diante do óbvio de minhas fantasias.

Se tivesse antes suposto a banalidade dos meus desejos,

Jamais os exporia...

Agora é tarde.

Fecho meu opúsculo imaginário e canto sobre ele,

Talvez na tentativa de valorizar-me,

Que este livreto negro - onde enterrei os espinhos de meus dias –

Será guardião de minhas promessas.

E dele brotarão as sementes púrpuras da heresia

E os cravos brancos de minha paixão.