Farpas De Nós Dois

_ Quando não há entre nós o silêncio absoluto minha tristeza se torna ainda mais visível e dolorosa:

Farpas trocadas de parte a parte

com o único propósito de ferir.

Dardos mortíferos a nos envenenarem a alma

dantes tão sonhadora e apaixonada,

hoje tão distante e magoada.

Tu me acusas de cinismo e eu afirmo:

tua frigidez me irrita.

Por onde andarás aquele amor risonho?

_ Não superei o que tu chamas de crise,

pois para mim foi pura traição.

Uma apunhalada certeira a dilacerar-me o peito.

Perdida nos sentimentos odiosos, também eu sucumbi e não senti em ti o perdão.

Então não me venhas agora falar de amor.

Não me permito mais o afeto.

Não te permito mais aquecer-se no calor do meu corpo.

Teus beijos têm o amargor do fel.

Sim, sobraram apenas farpas.

Perdi por ti o respeito.

_ Oh, e o amor?

_ Moribundo.

_ E os pobres filhinhos? Tu não enxergas que eles estão a sofrerem no meio da nossa guerra?

_ Vejo isso com profundo pesar e digo-te que se para nós a ventura jaz sepultada para sempre, ao menos para o bem deles é preciso resgatar-lhes a confiança no amor.