A lembrança de uma adolescente

(((())))

Uma história de poucos minutos tem sido resguardada por dois anos. Só que agora resolvi contar. Uma história quase inexpressiva, uma história quase incomunicável. Foi assim: durante alguns minutos uma sensação me aguçava à procurar a solidão.

Final daquela tarde... e a beleza era angelical e perene do mar calmo; onde um passarinho debruçava em seu voo suave. E, sem que eu tivesse um motivo claro, disse às ondas enfraquecidas:

- linda e divina obra da mãe natureza!

- mais que coisa adolescente! - certamente isso diriam! Porque as pessoas, talvez sem saber - pobres pessoas! - atam suas vistas para a beleza das coisas vivas.

- jamais serei adulta!...

...e viver na cega condição

de simplesmente

desaperceber tanta pureza

que brota da Criação.

A mente livre, a imaginação a solta. Leves pensamentos vagavam naquela superfície. A enorme pedra era meu trono. Engraçado, eu nada ordenava, no entanto, o sol carinhoso me abraçava inteira; a brisa envolvia-me, corpo e alma; o azul e o verde a fixarem em mim um terno olhar...transparente e límpido como a verdade...me fez dormir.

E na areia eu me deitei. Areia macia, tão macia que fiz dela o meu manto. Não sabia do deus kronos...acordei. E dali eu contemplava...

o vasto tapete multicor

que circundava o céu

num convite aberto

ao mundo interior.

mundo inexpressivo

mundo incomunicável

... e sempre interrompido

e sempre corrompido...

mas nunca será atingido!

não o meu!

Alguém me chamou. Nem sei se atendi. Alguém me perguntou:

- em que estava pensando?

Nem sei se respondi. Descobri que assim poderia ficar onde quisesse, em qualquer parte do outro mundo, pois este já está tão violado...

e da primeira vez que fui para o outro mundo, trouxe esta bagagem: incompreensível talvez, mas muito importante para mim. Um momento de sensibilidade e que nada mais foi...

do que uma linda história

que me trouxe a vitória

sobre os dissabores

dos sábios senhores

vitória...

de parcas horas

de poucos minutos, mas

de intensos segundos e de

eternos momentos!

dezembro/1978