Ironias do medíocre ressentido

carinhosamente amado mestre /

então o que tu tens a dizer? /

que infortúnio amarga a tua meiga voz angelical?

que pesadelos perturbam a tranquilidade dos teus sonhos?

vem - fale - estou na escuta soberba criatura /

os gritos devem ser resguardados tão secretamente para que os teus discípulos não ouçam a tua fragilidade?

ora ora imperturbável ser - no momento tu tens quieta tua ira?

trovejaste tanto em lamúria ferina contra este rastejante serviçal e agora percebo que tu calas num silêncio mórbido e cruel /

ahh!! não há motivo que enseja dissabor ao teu espírito diante da insignificância do verme que vos fala /

manifeste-se sublime criatura /

vens oferecer-me acalanto a alma com as boas novas a ti atribuídas exclusivamente pela vontade do poder celestial /

não me julgues desmerecedor das tuas circunstâncias paradisíacas

em razão da minha humilde discordância do que trazes de sabedoria /

vens caro amigo fraterno /

desces até o porão fétido abaixo deste chão que limpas teus pés exaustos no fim da peregrinação diária que realizas pelas cercanias proferindo ricas e sofismáticas mensagens de fé amor e esperança aos desaventurados servos carentes de um mundo sem sofrimentos abundante em prosperidade e paz

vens - ó grão mestre - tens compaixão deste indesejável ser /

perdoai vós este abjeto profanador cujos olhos vertem lágrimas de crocodilo num gesto envidente de arrependimento pelas blasfêmias que cuspiu em desacordo com a doutrina do insigne führer

espero no quinto dos infernos

Wagner de Oliveira
Enviado por Wagner de Oliveira em 21/03/2012
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