Coma...

Sozinha no beiral do céu perguntava-se onde estaria ele. A viagem longa pelos ramos das dores cansara seus pés, pobres pés sangraram e estacaram ali, entre o sonho e a realidade, fizeram-se pétalas... Não foram adiante. Lambiam o chão com sede de colo e fome de afeto.

Ao longe lápides entre nuvens enfeitiçavam o sol, o sol, tão perto do céu que se houvesse um vento mais forte, flocos de algodão ficariam pendurados em seus raios e morderiam suas restias.

Lápides estranhas, não eram tristes, eram vazias, ocas, como se tivessem sido abandonadas há pouco em atrito com todos os sentidos e instintos carnais. No silêncio, não haviam ais.

Enrolou seus pés nos restos de suas vestes, não precisava delas, eles sim, eles não paravam de sangrar maculando as células do piso. Esquisito, piso transparente, de vidro, de onde seu sangue pelas rachaduras escorria a colorir lá embaixo o branco leito onde um corpo jazia...

Caminhou por entre as sepulturas, procurou-o, chamou-o. Borboletas surgiram a entoar mantras coloridos. Almas a colher do mundo flores e frutos em milésimos de segundo na dor da carne que se despede, que despe-se... Eram lágrimas, lágrimas condensadas a volitarem em adágios na boca da morte...

Num susto, sentiu o corte, rasgado teve seu invólucro. Quanto tempo, qual o tempo, em que tempo veias, pele e ossos inverteram o processo da vida? No choro que luzia, mais e mais borboletas surgiam, mais borboletas ronronavam. Em uma espiral, sentou-se no caos. Sua alma sendo sugada, transpirava.

Ao longe, muito longe, ouvia. Uma, duas, três, infinitas vozes em um só uivo, as mãos aos céus erguiam, tentando puxá-la para o leito. Fugia, desejava o infinito. Na carne ao longe uma rosa vermelha brotara entre os seios...

E ele, ele não viera, distante do toque de suas mãos, sua face lhe dizia: Ainda não, ainda não...

Desfizeram-se as lápides, desfizera-se o espaço. Nada, vácuo. Desintegrou-se. Suspirou a carne, uivos cessaram. À vida em um sopro, retornara...

Almma
Enviado por Almma em 22/03/2012
Reeditado em 22/03/2012
Código do texto: T3569627
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.