Brutal

Para Kléber Santos.

Quando eu crescer quero ser gay, preto, albino, nazi budista, viciado em heroína, ativar minha cirrose e a pancreatite, escrever como Willian Burroughs e como ele assassinar minha amante com um tiro de Guilherme Tell e ter um filho que nasceu com crise de abstinência.

Quando eu crescer quero ser presidente de Trinidad y Tobago e montar um comunidade anarquista fortemente armada com rifles de ataque, pontos cinquenta, granadas de mão e coquetéis molotov para guarnecer meu domínios. Transformar meu território em paraíso do surfe.

Quando eu crescer quero me entupir de LSD e ter as piores “bad trips’ de que já se teve notícia e quero me deparar com Belzebu para tirar satisfação de Javé com ele. Quero promover uma guerra mundial apenas para justificar um holocausto nuclear. Depois disso entrar em reclusão em um mosteiro tibetano e ficar entoando mantras e cantos até meu cérebro entrar em um estado do puro êxtase.

Quando eu crescer vou comer miolos do carneiro como fazem os finlandeses e montar uma banda de black metal pagão sob o inclemente sol tropical do sul do mundo. Quando eu crescer quero arranjar um ônibus colegial e carregar o equipamento de cidade em cidade, de apresentação em apresentação até converter os meus fãs a tentar vender seus órgãos para o mercado negro.

Quando eu crescer quero beber álcool 99% e fumar cigarros enrolados à mão. Quero fazer uma radiografia de pulmão até encontrar a minha tuberculose ou cultivar pneumonia por não dormir direito e não comer nada além de carne gordurosa e refrigerante de cola.

Quando eu crescer quero pleitear um emprego no Supremo Tribunal Federal e mandar fuzilar quem tenha renda líquida abaixo do piso do salário mínimo. Quero mandar prender os ricos e deixa-los em solitárias fétidas onde sua única diversão será tentar matar os ratos e as baratas do lugar. Quero colocar os políticos investigados para colocar dormentes em estradas de ferro e trabalhar nas lavouras de soja para exportar para o Iraque. Quero os desembargadores nas criações de bichos da seda. Os policiais serão enforcados em praça pública para o deleite do povo e da petizada.

Quando eu crescer quero morrer jovem para ser um cadáver bonito.

Quando eu crescer quero ser apenas uma aberração da natureza.

Quando eu crescer quero ser uma degradação.

Se é que um dia eu irei crescer...

Curitiba, 29 de março de 2012 (319 anos ), 19 graus célsius – Outono.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 29/03/2012
Código do texto: T3583138
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