Não se cansam nunca de rir de mim?

Queria passar despercebida, me camuflar nas paredes.

Não se cansam nunca de rir de mim? eu pensava

Chinelos encardidos e gastos, cabelos ressecados e pernas rajadas.

Cadernos encapados com saco plástico, mochila feita de retalhos.

Meus pais não tinham como comprar novos chinelos,

Então esse, arrebentado, ainda era usado com grampo preso em baixo.

O caderno tinha que durar o ano todo.

Será que não podiam entender?

Mas não, não entendiam. Apenas riam...

E eu até sonhava com aquelas caras retorcidas pelo escárnio e desprezo.

O som de sua zombaria impregnava na minha mente, ecoando por muito tempo.

Sentia-me tão miserável, insignificante e sem valor.

Não era por falta de querer. Ah como eu queria...

Queria tanto uma sandália rosa com diademinha combinando

Cabelos bonitos e sedosos, pele hidratada e sem o castigo do sol

Cadernos de cores lindas e estampados com meus desenhos favoritos

Ah como eu queria, até sonhava com uma mochila de rodinhas

Mas eu não tinha e riam de mim, como se eu não valesse nada por isso.

Ah se soubessem o quanto isso machuca; se imaginassem o quanto eu desejava, naqueles momentos, nem ter nascido.

Eu não tinha culpa! Entre uma mochila da moda e a comida em casa, eu preferia comer!

Mas não entendiam e riram por anos e anos, até que cresceram e encontraram outras diversões.

Jordana Sousa
Enviado por Jordana Sousa em 09/04/2012
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