O EQUILIBRISTA
Ao despertar, em cada manhã, meu delírio matinal.
Um pouco de morbidez, porque é necessário.
Um pouco de morbidez.
Então acordo.
O raio ofuscado de sol pela penumbra do cortinado na janela, e acordo.
Um salto para a vida, que acontece toda grande, fora de mim.
Era esta a decisão, por hora, viver.
Então: Eu vivo!
Até que me canse. Porque também me canso.
É que sou um exímio aventureiro, um homem de parcos verbos e clássicos hábitos.
Não conheço o significado do pouco, do limitado, do meticuloso.
Afinal, o que pode dar errado é a não vida.
E não viver é muito fácil!
Digo isso com propriedade, porque já experimentei o outro lado.
Não estar vivo, é como viver no quase.
Ter em partes.
É a exímia reprodução gráfica de formas copiladas, tristonhas e sem
graça.
Não viver, é uma quase releitura da vida.
De uma forma menos quente, menos densa, menos viva.
Eu sei, porque já estive lá.
E como isso é possível?
Não sei explicar, só sei sentir.
E o que é a vida?
É o contrario, é uma canção sossegada, é um apego.
É a morte mais densa, negra, sólida, maciça, e tenaz de um ‘eu’ todo
errado.
É o contrario revigorante. O formidável, o milagroso, o incomum, e o estranho.
É morder a liberdade, deliciar-se do delírio, e saciar-se da culpa.
É deixar-se levar pela parte mais assustadora do si mesmo, que é a resposta mais bela de cada alma.