O EQUILIBRISTA

Ao despertar, em cada manhã, meu delírio matinal.

Um pouco de morbidez, porque é necessário.

Um pouco de morbidez.

Então acordo.

O raio ofuscado de sol pela penumbra do cortinado na janela, e acordo.

Um salto para a vida, que acontece toda grande, fora de mim.

Era esta a decisão, por hora, viver.

Então: Eu vivo!

Até que me canse. Porque também me canso.

É que sou um exímio aventureiro, um homem de parcos verbos e clássicos hábitos.

Não conheço o significado do pouco, do limitado, do meticuloso.

Afinal, o que pode dar errado é a não vida.

E não viver é muito fácil!

Digo isso com propriedade, porque já experimentei o outro lado.

Não estar vivo, é como viver no quase.

Ter em partes.

É a exímia reprodução gráfica de formas copiladas, tristonhas e sem

graça.

Não viver, é uma quase releitura da vida.

De uma forma menos quente, menos densa, menos viva.

Eu sei, porque já estive lá.

E como isso é possível?

Não sei explicar, só sei sentir.

E o que é a vida?

É o contrario, é uma canção sossegada, é um apego.

É a morte mais densa, negra, sólida, maciça, e tenaz de um ‘eu’ todo

errado.

É o contrario revigorante. O formidável, o milagroso, o incomum, e o estranho.

É morder a liberdade, deliciar-se do delírio, e saciar-se da culpa.

É deixar-se levar pela parte mais assustadora do si mesmo, que é a resposta mais bela de cada alma.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 06/06/2012
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T3708676