"LOUCO AMOR"

Eu te amo como as pedras amam o solo que tocam,

com a incerteza do que virá de um vento que as possam fazer rolar,

e se precipitarem montanha abaixo levando com elas

fragmentos de tudo que estava descansando ao chão.

Eu te amo como os fortes ventos de uma noite escura e tempestuosa,

que trás medo e temores do que restará depois deste intenso vendaval,

que levará consigo pedaços e restos de vidas e sentimentos,

deixando marcas e dores cravadas na alma subordinada.

Eu te amo como vítima de sacrifício depositada num altar,

em oferenda a deuses coroados no tempo e nas crenças de povos idólatras,

que se perderam em fantasias e sonhos de uma noite alucinógena,

e se renderam as sombras obscuras de dúvidas e incertezas intermináveis.

Eu te amo como as areias das dunas de um deserto árido,

que se movimentam descontroladas e imperceptíveis,

formando montes que se dissolvem a cada instante,

incompreensíveis como murmúrios de sons e ruídos que ninguém pode ouvir.

Eu te amo como o sol que castiga a terra sedenta da chuva tardia,

que foi esperada, mas que não conseguiu cair e fazer-se necessária,

involuntária tomou outros rumos e talvez terminou alagando lugares,

já submersos e saciados por nuvens dianteiras e dissolúveis.

Eu te amo como as ondas de um mar revolto e insano,

que destrói embarcações e vidas alienadas e perdidas,

fazendo náufragos deixados em ilhas desconhecidas,

agora condenados à solidão desesperada de um futuro incerto.

Eu te amo com a submissão de uma escrava diante de seu senhor,

que baixa os olhos e beija-lhe as mãos em sinal de respeito e reverencia,

porque foi assim que aprendeu em sua senzala, em seu cárcere,

viver em sua insignificância, para enaltecer àquele que se julga superior.

Eu te amo como as folhas das árvores que caem num outono frio,

porque já se aproxima o inverno rigoroso que será coberto pela neve densa,

que só será dissolvida nas primeiras horas da primavera imaculada,

que aguarda ansiosa o calor do verão, de dias de luz e cheios de vida.

Rosana de Pádua
Enviado por Rosana de Pádua em 01/08/2012
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